quarta-feira, 27 de março de 2013

#49 'His Girl Friday'

Na aula de Hollywood(...), para terminar o ciclo de comédias românticas/screwball, assistimos ao filme His Girl Friday, estrelando Cary Grant pela terceira semana consecutiva. É a história de Walter, um jornalista de NY que tenta reconquistar sua ex-esposa, também jornalista, antes que ela se case com um outro cara, tudo isso em poucas horas. Para impedir que ela viaje com o noivo para onde eles pretendem se casar, Walter persuade Hildy a fazer uma entrevista que poderia salvar a vida de um homem e alavancar sua carreira jornalística.

Como comédia romântica, achei o filme péssimo. Para meus colegas do Jornalismo, é uma visão interessante, embora indigesta. Na verdade, o filme de 1940 é uma adaptação da peça The Front Page, sobre a era sombria do jornalismo quando repórteres faziam de tudo para conseguir escrever suas histórias, a qualquer preço. A época onde existia salas de imprensa nas delegacias. E não era uma comédia romântica pois Hildy era uma personagem masculina. Ou seja, a adaptação foi uma tentativa forçada de atrair um público maior (feminino) para os cinemas. Não sei se chegou a funcionar.

O fato é que a história é bem deprimente. Há um homem inocente condenado à forca, e todos os jornalistas da cidade ficam sobrevoando a delegacia como urubus, querendo mais detalhes e furos de reportagem sobre o caso. Há uma personagem de pouca importância,relacionada ao suposto crime do acusado, que é mal retratada nas reportagens, e ela pede constantemente aos jornalistas que ouçam sua versão da história e a reescrevam. Mas eles não dão à mínima, sumariamente a ignoram. Mais para frente na história, quando ela tem uma informação que é de interesse dos jornalistas, eles a atacam como cães raivosos, de forma bem assustadora. Para escapar da pressão e não revelar o segredo, ela se atira da janela da delegacia e ninguém se importa se ela está morta ou não. Na verdade, quando pensam que há a possibilidade de ela estar viva, os jornalistas correm para ela como urubus em cima de uma carniça. É o lado negro do Jornalismo que eu gostaria de nunca ter que me deparar.

O interessante nessa aula é que tivemos que fazer uma apresentação surpresa para turma, em grupos, com nossas teorias sobre o tipo de gênero e tom do filme - se é cômico, romântico, ou dramático. Meu grupo defendeu o tom dramático, pessimista até do filme. E que me surpreendeu foi a facilidade com que eu apresentei minhas ideias para a turma, sem muita preparação anterior. Não fiquei nervosa, não gaguejei, não tropecei na língua. Foi um momento de revelação. Eu realmente sabia do que estava falando, e fiz isso bem, já que a professora elogiou nossas ideias. E mesmo que não tenhamos sido o grupo vencedor (era uma pequena competição, onde a turma votava em nos argumentos que tinham apreciado melhor), foi uma sensação muito boa.

-------------------------------
Outra coisa que me incomodou demais nesse filme, além do ritmo dos diálogos que é muito irritante, embora revolucionário - primeiro filme a usar diálogos realistas onde as pessoas atropelam as falas uns dos outros -, foi o título. O que significa 'his girl friday'?? Eu sei o que cada uma dessas palavras significam, mas não sei o sentido delas juntas. Sua garota sexta-feira? Não fazia sentido algum!

Mas, graças à Wikipédia, descobri que 'girl friday', ou 'man friday', é uma expressão para designar um servente muito fiel, ou uma secretária encarregada de muitas tarefas. A expressão surgiu da obra Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, referente a um personagem, Friday, que era um fiel servente para o personagem principal. No filme, faz sentido, já que Hildy é o tipo de repórter que faz de tudo para seu editor e ex-marido.

Como é bom quando as coisas fazem sentido!

Um comentário: