quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

#24 All by myself in London e primeiro dia na Stag TV

Acordei às 10h, chequei a previsão do tempo, me vesti de acordo, peguei a bolsa e saí para pegar o ônibus que me levaria até a cidade. Na véspera tinha olhado os horários dos trens para Londres e sabia que havia um às 11h17 e outro às 11h40. Às 11h eu estava no ponto de ônibus do campus e encontrei dois amigos no ponto, que já esperavam há um bom tempo. O primeiro ônibus que passou, já em cima da hora do trem que eu pretendia pegar, só ia até a universidade. Acabei entrando nesse junto com o pessoal, porque da universidade eu sabia que existiam mais duas opções de ônibus para a cidade que não passavam no Manor Park.

Dito e feito. Pouco depois de descer em frente ao prédio Austin Pearce entrei no nº 17 (ou 26?) e fui para a cidade, acompanhada de outros estudantes com pequenas malas e mochilas, também indo para a estação de trem. Desci no ponto da estação e me dirigi à máquina de venda de tickets (vendedores humanos para quê?). Fiquei meio confusa com todas as opções de bilhetes e principalmente por não existir a opção de comprar bilhetes por horários. Pedi ajuda a um rapaz ao meu lado, que também viera da universidade no meu ônibus e ele me ajudou a selecionar o bilhete que eu queria: ida e volta para Londres, 1/3 de desconto do railcard estudantil, mais passe para todas as zonas (1 a 6) do metrô de Londres, fora do horário de rush (11h às 16h ou depois das 19h). Agradeci a ajuda, enfiei o cartão de crédito na máquina, paguei ($12.40), retirei meu ticket e meus recibos e entrei na estação.

Numa televisão na parede vi o horário do trem (11h40), a plataforma (5) e me dirigi para ela. Esperei menos de 5 minutos até o trem da South West Trains chegar. Entrei e me sentei no primeiro assento que encontrei na cadeira do meio de uma fila de três, ao lado de uma senhora que lia um livro. Tirei da bolsa meu Vida de Artista, coleção de histórias de Henry James sobre pintores e pinturas e comecei a ler de onde tinha parado da última vez. Me concentrei na leitura mas mantive os ouvidos atentos para a voz feminina da gravação que indicava as estações em que parávamos.

Trinta minutos depois desci na estação de Waterloo em Londres. Segui as placas até chegar na entrada do metrô, consultei o mapa cujas principais linhas eu já conhecia da primeira vez que estive em Londres em 2011 e anotei mentalmente meu itinerário: linha cinza, descer em Westminster, trocar pra linha amarela/verde e seguir até South Kensington. Destino: Chelsea Old Town Hall.


Interior da galeria no Chelsea Old Town Hall
O propósito do passeio era visitar uma exposição de arte contemporânea internacional, onde o fotógrafo pai de uma amiga minha, teria seus trabalhos expostos. A exposição só durava três dias, esse já era o segundo. Saindo do metrô, encontrei um mapa turístico bem útil no meio da calçada. Eu tinha esquecido meu mapa de Londres em casa, mas sabia o nome das ruas por onde eu precisava passar. Saindo da estação, Onslow Street, virar à direita na Sidney Street e seguir até a Kings Road, endereço da galeria. Não foi difícil me localizar; após passar por lindas casas brancas em estilo neoclássico, lojas de grife e alguns jardins, encontrei a antiga prefeitura e sede da biblioteca pública de Chelsea.

Entrei no prédio e segui em frente até a galeria. Percorri toda a exposição, vi muitas obras interessantes, dentre fotografias, pinturas, esculturas e instalações; mas não encontrei as obras do fotógrafo brasileiro que eu conhecia bem. Pedi ajuda às funcionárias da exposição e após algumas indagações, descobri que as obras dele não tinham chegado a tempo para a exposição. Uma verdadeira pena.

No caminho de volta à estação de metrô, resolvi entrar num dos jardins por onde tinha passado na ida, onde ficava a St. Luke's Church. Tirei algumas fotos e observei os corvos e pombos que comiam migalhas do chão. Ao lado da igreja tinha um campo de futebol e alguns jovens jogando.

St. Luke's Church
Era 13h e eu ainda tinha um tempinho até pegar o trem de volta para casa, às 15h35 e eu começava a sentir fome. Eu não tinha tomado café da manhã e trouxera uma maçã na bolsa, mas ainda não tinha tido vontade de comê-la. Passei na frente de vários cafés, mas um bolo de chocolate em particular me chamou a atenção num deles e entrei. Pedi um croissant, um macchiato e uma fatia do maravilhoso bolo de chocolate com cacau em pó salpicado por cima, recebi meu lanche numa sacolinha e saí para perambular. Foi um lanche caro, o preço de um almoço, mas aquele bolo valia a pena. Só lamento não ter tirado uma foto dele pra lembrar.

Reconheci a área onde eu estava da primeira vez que vim à Londres e reconhecendo o prédio à distância, me dirigi até o Natural History Museum, o qual eu e meu pai tínhamos pretendido visitar na outra viagem mas acabamos desistindo porque a fila estava muito grande e estávamos saturados de tanto ver museus em Paris. Acabamos indo conhecer a Harrods naquele dia. Priorizamos o consumo à cultura, uma vergonha. Mas eu ia reparar esse erro, sentar num dos bancos da frente do museu, comer meu lanche, entrar e ver as exposições.

Bem, eu ia. Mas sexta-feira parecia ser o dia nacional de levar as crianças ao museu. A fila estava enorme, bloqueando até mesmo o acesso aos bancos onde eu e meu pai tínhamos nos sentado para descansar da última vez. E não paravam de entrar famílias inteiras com crianças de carrinho.

Natural History Museum
Dei meia volta, desisti de procurar um banco e fui comendo meu croissant enquanto andava pela rua (o café eu já tinha tomado), não muito como uma londrina, mais como uma nova-iorquina. Entrei no metrô novamente e resolvi fazer o caminho de volta, descendo em Westminster para dizer olá para o Tâmisa e o Big Bem. Se o dia estivesse mais bonito, ensolarado, eu teria ido à Notting HIll ou ao Hyde Park. Mas estava tudo cinzento, bem londrino, e frio.
Big Ben

Estação de metrô de Westminster
Tirei algumas fotos, dei uma volta no quarteirão, voltei para o metrô. Linha cinza, Waterloo. Saí da estação, olhei em volta, mas não vi nada que me chamasse a atenção e já era 15h. Me dirigi à estação ferroviária, confirmei o horário do trem, a plataforma (13), e entrei numa das lojas de acessórios mais lindas que existe (Accessorize), mas também com os preços mais altos. Suspirei e fui até minha plataforma esperar pelo trem.

Entrei, me acomodei ao lado de uma janela e finalmente comi meu tão desejado bolo de chocolate. Uma delícia, como eu imaginava. E geladinho, porque né, estava frio. Minha maçã ficou completamente esquecida.

Uma hora depois (esse trem parava em mais estações que o da ida) estava de volta em Guildford. Saí da estação numa rua diferente daquela em que tinha entrado e por um momento me senti perdida. Mas encontrei o centro da cidade e me localizei. Passei na Tesco Express para comprar creme de leite e cream cheese para fazer arroz à piemontese no fim de semana e entrei no Friary Center para cortar caminho até o terminal de ônibus.

Notei que estava no primeiro andar do shopping, o qual ainda não tinha explorado e encontrei uma loja enorme de CD's e DVD's. Estava cedo, entrei para dar uma olhadinha. E saí de lá carregada de boas compras em promoção: 5 filmes por $13!



Peguei o ônibus e voltei pra casa. Fiz um lanche rápido com os fish fingers que tinham sobrado, tomei banho e me arrumei para meu primeiro dia de trabalho na Stag TV.

Antes passei no pub Chancellors e encontrei todos os brasileiros e bastante gente da universidade (inclusive o pessoal da TV); estavam sendo anunciados os eleitos para os cargos da Student's Union. Lá pelas dez e meia da noite fui até o escritório da Stag TV para saber o que se faz no Dejavubix. Descobri que todas as sextas-feiras filmamos as festas e entrevistamos as pessoas na Rubix. Bem simples e divertido.

O tema da festa era Playtime; tinha um pula-pula gigante no pátio ao lado da entrada, uma piscina de bolinhas no piso principal da boate, mesas com papeis, lápis de cor e massinha e animadores fazendo pintura facial. Não me senti inicialmente à vontade para entrevistar as pessoas na festa então ajudei com a figuração (pulando no pula-pula quando não tinha ninguém, escrevendo Stag TV com massinha) e também filmei um pouco (primeira vez que peguei numa filmadora de verdade, fiquei com dor no ombro, a câmera pesa muito!).

O melhor foi que entramos na festa de graça e como ganhei um carimbo na mão, quando acabamos de trabalhar pude aproveitar a festa e encontrar os brasileiros para ter companhia na volta pra casa, já que tinha perdido o ônibus.

Cheguei em casa e fui direto dormir para acordar às 07h no dia seguinte e viajar para ver o Stonehenge e visitar a cidade de Bath.

#23 Um dia normal

Na quinta meu dia foi normal; às 11h, depois da aula de Experimental and Avantgarde Cinema, fui para a biblioteca e fiquei lendo o livro da Angela Carter até 13h; fui para o pub/restaurante Chancellors e almocei com alguns brasileiros e o polonês que me cantou na festa passada. Fui para a aula de aprender como faz dever de casa, a professora me desejou sorte nas minhas tarefas pouco explícitas ("Como assim não tem limite de palavras??"), fui para a aula de Contemporary Storytelling e me dei conta de que só tinha duas semanas para escrever e apresentar alguma produção minha para a turma (conto, poema, roteiro, peça, parte de um romance). E que tem que ser algo muito bom, porque o conto que uma menina escreveu e leu pra turma era de arrasar. E ainda tinha um power-point explicando os estilos e autores em que ela se baseou. Comecei a entrar em pânico um pouquinho.

À noite fui com os estudantes de intercâmbio para o Spectrum Leisure Centre, o centro de lazer da cidade. Lá tem boliche, pista de patinação/hockey, e um parque aquático. Interno, é claro. A ideia era jogar boliche, todo mundo já tinha comprado os ingressos durante a semana com o pessoal do escritório internacional da universidade, mas eu e M. deixamos para comprar na hora. Acabaram não nos deixando jogar porque já tinham distribuído os estudantes em grupos pelas pistas e nós duas iríamos estragar toda a matemática da coisa. Acabamos nos contentando em só olhar, o que foi bem divertido porque nosso grupo de amigos não era assim tão experiente no jogo. Aproveitei para jantar uma pizza, já que ia chegar em casa tarde.

Chegando em casa, arrumei minha bolsa com a câmera carregada para o passeio da sexta-feira: Londres, pela primeira vez sozinha para explorar a cidade.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

#22 Café da manhã inglês, mas nem tanto

Na quarta-feira de manhã saí para encontrar alguns amigos brasileiros e a espanhola Tamara para tomar café da manhã em Guildford, mas não um café da manhã qualquer; um autêntico English Breakfast. E por 3 libras apenas.

Nos encontramos na universidade, já que os estudantes de intercâmbio que não são do Ciência sem Fronteiras moram no campus principal; fomos caminhando até a cidade e finalmente aprendi como chegar lá a pé, não é difícil. Passada a área da universidade, uma rua residencial, passamos por uma ponte, logo em seguida o cinema e já nos encontramos no centro da cidade.

Vista da ponte e do rio cujo nome ainda não conheço
Chegamos ao pub Lloyds, escolhemos uma mesa e pedimos o cardápio. E então me lembrei dos conselhos de um amigo que ficou no Brasil: "não coma café da manhã britânico. Eles comem torrada com feijão. Feijão doce". De fato. O típico café da manhã britânico é composto de:

- Torrada
- Feijão doce
- Ovo frito
- Salsicha
- Bacon
- Hash Browns (uma coisa empanada que parecia uma mistura de batata e cebola)

Eu pulei fora da ideia assim que lembrei do feijão. Ao invés, pedi panquecas com Maple Syrup e chá com leite. Uma delícia, e também apenas 3 libras.



Depois de comer, demos uma volta pela cidade porque o dia estava bonito, o sol brilhava e nem estava tão frio. Passei na Argos, a loja que vende de tudo e a preços acessíveis e busquei minha mala/carrinho de compras. Agora sim, equipada para as compras da semana sem ter que me preocupar em me arrastar pelas ruas com milhões de sacolas. Só foi difícil subir as escadas do meu prédio, isso porque eu estava tentando não arrastá-la pelos degraus para não danificar as rodas novas. Mas passou no teste e será minha inseparável companheira de compras agora.

À tarde fui guiada em um tour particular da biblioteca e aprendi tudo o que deveria saber da primeira vez que me aventurei por ela, e ainda mais um bocado de coisa. Como, por exemplo, que pela universidade temos acesso a um software que faz referências bibliográficas automáticas. Extremamente útil já que tudo o que eu vou escrever para entregar tem que ter referências e eu realmente não gosto de organizar a bibliografia do final.

Às seis e meia fui a uma reunião da Stag TV, o canal de televisão do campus no Youtube. Estava nervosa porque cheguei atrasada, todos os membros eram nativos e eu não conhecia ninguém (a não ser por uns três alunos das minhas aulas, mas cujos nomes ignorava e com quem jamais tinha conversado). Mas fui muito bem recebida e acolhida, (no fim da reunião até fomos para um pub), eles certamente terão lugar para mim em algum dos seus vários projetos.

#21 Terça musical

Na terça-feira um bom número de alunos moradores do Manor Park chegou atrasado nas aulas de 9h porque os dois ônibus que passaram no nosso ponto, no horário previsto, já estavam lotados, o que significa que estavam faltando ônibus naquela manhã, especialmente os de dois andares.

Teve gente que perdeu prova nesse dia, eu perdi o início do filme Top Hat. O que foi mesmo uma pena, já que esta foi minha iniciação aos filmes de Fred Astaire.

Porque até então eu só o tinha visto em Cinderela em Paris (Funny Face), que não é um autêntico filme de Astaire.

Pode até não ser bonito, mas quanto charme, quanta elegância *suspiros*

Top Hat é um musical diferente para aqueles que só conhecem musicais dos anos 60 em diante, já que tem mais números de dança do que de canto, e o sapateado de Fred Astaire está completamente integrado na narrativa, fazendo sentido na história, não é meramente ilustrativo. Fora que a história desse filme é leve e romântica no estilo commedia dell arte, além de ter músicas, danças e figurinos lindos. Recomendo.

Fred Astaire e Ginger Rodgers em Top Hat após dançarem Cheek  to Cheek

E neste mesmo dia, à noite, assisti um dos grandes musicais teatrais de todos os tempos, no cinema: Les Misérables. Quase três horas de drama e canto ininterruptos. Uma experiência ímpar, uma história comovente e atores escandalosamente talentosos. Russel Crowe, que voz mais linda. Hugh Jackman, quanta emoção. Anne Hathaway, quanto sofrimento.

E para atenuar as lágrimas do espectador, ainda que por pouco tempo, o alívio cômico de Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, dupla perfeita.


Assistam e chorem, vale a pena.

E não fiquem tristes depois: no fim, valeu a pena.

#20 Segunda de molho

Acordei doente, como eu previa. Resfriado chato. Porque tudo em mim doía e meu nariz não parava de incomodar, acabei dormindo demais e chegando atrasada para a aula de Contemporary Storytelling. Pelo menos dessa vez eu sabia qual era o tema da aula, o conto The Bloody Chamber da Angela Carter.

Angela Carter foi uma escritora inglesa cuja obra é marcada pelo realismo mágico e o pós-feminismo. As fontes de inspiração para a maioria das suas histórias eram contos de fada, dos quais ela retirava a essência para criar novas histórias, mais sombrias, explorando a sexualidade feminina e s figura do homem dominante em contraste com a mulher passiva. Parece que foi a precursora de alguns estilos literários atuais, embora seu texto seja muito melhor do que muita coisa que encontramos por aí (cof, cof, crepúsculo, cof, cof, cinquenta tons).

 
O resto do dia se arrastou para mim, que estava me sentindo muito gripada. Voltei pra casa e ainda tive que levar o restante das roupas para secar, mas dessa vez fui munida de uma leitura para passar o tempo. Chegando em casa, lá pelas 17h, sentei para fazer o primeiro trabalho valendo nota da aula de Hollywood and Film Genres e só saí da frente do computador às 23h, muito cansada, mas com alguma coisa para apresentar no dia seguinte.
 
Dormi em seguida e acho que tive um pouco de febre durante a noite. Senti falta de ter mamãe pra me cuidar.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

#19 Domingo sem sorte

Acordei cedo (10h, muito bom pra quem dormiu às 4h) e comecei os trabalhos. Li mais um capítulo do livro de Film Industy; ontem eu tinha feito a pesquisa sobre o filme Hyde Park on Hudson para essa mesma aula e lido o conto "The Bloody Chamber" de Angela Carter para a aula de Contemporary Storytelling;  tudo estava bem encaminhado. Fiz um macarrão com salsichas de almoço e até me permiti deitar um pouco pra repousar da barriga cheia (porque estava tão gostoso e ontem minhas refeições tinham sido poucas, acabei exagerando) e conversar com mamãe no Skype.

A conversa foi até às 17h-18h, hora de lavar roupa. Tinha acumulado muita coisa, o cesto estava pesado. Encontrei a J. na lavanderia ao lado do prédio dela e ficamos lá por uma hora e meia conversando e assistindo Jurassic Park na TV da sala comunal que é essa lavanderia, enquanto esperávamos as roupas lavarem e depois secarem.

Deu o tempo, guardamos nossas coisas e nos separamos para nos reencontrarmos na aula amanhã. Estranhei que algumas roupas que peguei pareciam úmidas, mas pensei, deve ser por causa do calor da secadora.

Me arrastei até em casa carregando o pesado cesto (nunca mais deixo acumular tanta roupa; e pior, roupa com lençol e toalha) e quando cheguei na porta do quarto, suspendi o cesto pela alça para entrar, e no que entrei, a alça se rompeu na minha mão. Droga.

Fui tirar as roupas para guardar e percebo que estão todas úmidas. E não era por causa do calor. As roupas simplesmente não secaram. Meus lençóis (de forrar + de cobrir + fronhas + capa do edredom) não secaram. E eram os únicos que eu tinha. Por sorte minha flatmate A.C. viu meu desespero no Facebook e bateu na minha porta para me emprestar um lençol de forrar e uma fronha. Um anjo, mesmo.

Vi que tinha uma noite de microfone aberto no Heart + Soul, peguei só a capa do edredom e o lençol de cobrir, coloquei numa sacola e levei para a secadora novamente. As outras roupas vão ter que esperar na sacola em frente ao meu aquecedor até amanhã. Sem chance de carregar aquele peso todo de novo.

Enquanto esperava a roupa de cama secar, fui até o restaurante e encontrei alguns dos meninos assistindo uma mulher cantando na tal competição do microfone aberto. Não fiquei nem meia hora, a competição acabou, o restaurante fechou e foram todos para seus flats. Eu voltei para a lavanderia e o D. me acompanhou enquanto fumava um cigarro. Quando terminou, entramos um pouco, estava bem frio, tentamos encontrar uma programação boa na TV, sem sucesso. Ele me fez companhia por 10 minutos e foi para casa dormir. Fiquei mais vinte minutos sozinha, sem nada para fazer, encarando meu smartphone que resolveu parar de atualizar os aplicativos, problema esse que os outros meninos que estavam no restaurante falharam em consertar.

Voltei pra casa com meus lençóis secos, botei uma água pra ferver e comi uma sopa de caneca. A sopa era gostosa, sabor frango com legumes, mas a cor era branca. Uma sopa branca. Pior do que sopa azul. Mas comi, era a única comida quente e fácil de fazer que me sobrara. Preciso comprar mais comida para a semana. O pão acabou, junto com vários outros alimentos essenciais.

Arrumei minha cama, tentei pendurar umas meias úmidas no aquecedor, mas constatei que ele não está aquecendo o suficiente e eu não descobri como aumentar a temperatura. Tenho medo de girar a "torneira" para o lado errado e acabar desligando tudo. Minha garganta está começando a mostrar sinais de alguma inflamação, provavelmente por exposição ao frio. Não me agasalhei apropriadamente hoje porque não ia muito longe, mas o dia, apesar de ter começado ensolarado, estava mais frio que ontem, e o vento da noite estava bem desagradável. Vitamina C já.

Não consegui fazer o trabalho da aula de terça, que vale nota, mas felizmente tenho a tarde de amanhã.

Estou cansada. Bem cansada. E sentindo falta de conforto familiar. Quero colo, abraço, carinho de mãe, pai, amigos. Essa é a primeira vez nesses dezenove dias que estive longe de casa que eu realmente senti falta do meu habitat natural. Da minha zona de conforto.

Ainda não me acostumei com meu tempo aqui, os dias não rendem, a noite e o sono chegam muito rápido; sinto que nunca dá tempo de fazer nada.

Principalmente de fazer as unhas.

#18 Duas bicicletas e um pônei

Acordei no sábado à uma da tarde, como de costume, especialmente após a noite de balada. O plano era acordar cedo, almoçar e ir para o centro de Guildford passear e comprar umas coisinhas que estavam faltando (tipo toalhas extras, pra quando as outras estivessem lavando).

Quando vi a hora, logo desisti da ideia, talvez fosse melhor deixar o passeio para outro dia e passar o sábado estudando. Liguei o computador só para ver o que estava acontecendo e me deparei com um convite de um dos brasileiros, R., perguntando se alguém queria lhe fazer companhia para ir ao Guidlford Castle, um dos lugares que eu planejava ir hoje. Logo me manifestei, já eram quase duas e eu não tinha comido nada, mas me vesti com muita agilidade e com roupas bem leves (o "calor" continuava reinando). Convocamos mais dois brasileiros, o D. e a M. e nos encontramos na recepção do Manor Park para esperar o ônibus.

Peguei a câmera e coloquei uma maçã na bolsa, para comer no caminho. No restaurante da recepção, tomei um café. O ônibus chegou e começamos nosso passeio por volta das duas e meia da tarde.

Chegando no centro da cidade, fomos andando até uma loja de bicicletas que o D. tinha pesquisado, ele queria comprar uma para poder explorar a cidade e ir pra universidade sem depender de ônibus. A M. também animou e eles começaram a planejar viagens de bicicleta pelo Reino Unido. Achei a ideia incrível, mas eu mal consigo andar de bicicleta numa ciclovia, que dirá em estrada. Se eles conseguissem juntar um grupo grande para fazer essas viagens, talvez eu encontrasse alguém que topasse alugar e dirigir um carro (porque também não sei dirigir) e eu iria nele fazendo registros fotográficos da viagem. Mas é só uma ideia que me ocorreu, nem cheguei a comentar na hora.

Andamos por um bom tempo, passando por várias casinhas de tijolos bonitinhas e iguaizinhas, até encontrarmos a loja Pedal Pushers. Nossos amigos ciclistas olharam tudo, mas as bicicletas estavam bem caras e no momento eles não tinham nenhuma de segunda mão. Seguimos para uma outra loja, mais longe, onde só se vendiam bicicletas usadas e provavelmente mais baratas. Andamos bastante, mas o tempo estava agradável e as companhias também. Aproveitei para fazer algumas fotos.




Depois de passarmos por um pônei que pastava feliz em um pedaço de grama e andarmos um pouco pela Woodlands Road, encontramos a loja, que vendia não só bicicletas, mas móveis e outros aparelhos usados. O D. e a M. encontraram suas bicicletas, 80 e 50 libras respectivamente, e estavam em bom estado. A loja estava prestes a fechar, e após terem feito o test-drive, saíram felizes com suas novas bicicletas, prontos para explorar todos os cantos de Guildford. D. e M. seguiram de bicicleta até o centro da cidade, eu e R. esperamos pelo próximo ônibus que levaria uns vinte minutos.

My little pony


Depois de 5 minutos no ponto, o ônibus nº 34 passou e parou no ponto do outro lado da rua. Eu e R. corremos e conseguimos alcança-lo, entramos e nos acomodamos. Em pouco tempo estaríamos de volta à Friary Bus Station no centro da cidade.

Mas duas ou três paradas depois, o motorista levantou-se, chegou ao nosso lado e disse que estávamos indo para Woking, uma outra cidade, e que nossos passes de ônibus só eram válidos em Guildford. Ele não disse com essas palavras, mas era algo como "paguem a passagem ou caiam fora". Descemos, ainda meio confusos, mas tudo começou a fazer sentido. Existia um motivo para aquele ônibus ter passado do outro lado da rua no ponto em que o pegamos. E por ele não ter demorado vinte minutos.

Atravessamos a rua em que o ônibus gentilmente nos deixou, sem ter ideia de onde estávamos, e chegamos ao outro ponto de ônibus. Esperamos mais cinco minutos e logo apareceu outro número 34, dessa vez o certo, com o letreiro indicando a direção Town Center. Subimos no ônibus despreocupadamente dessa vez.

De volta ao centro, R. e eu nos separamos. Ele me deixou na Primark para comprar as coisas que eu precisava ("sei que mulheres não gostam de homem andando atrás delas no meio das compras") e foi até o McDonald's tomar uma Coca-Cola. Eu encontrei minhas toalhas, busquei um conjunto de lençol mas só tinha o lençol de forrar a cama então desisti da ideia; achei uma saia vinho bonitinha e de preço justo, um cabide de acessórios para pendurar meus cintos e cachecóis e me dirigi ao caixa.

Saindo da loja, encontrei o R. e recebi uma ligação da M. (finalmente consegui um chip do Reino Unido, sou uma pessoa com telefone agora!) dizendo que eles estavam em frente ao shopping da estação. Agora sim podíamos dar início ao passeio que tínhamos programado para o dia: ir ao Castelo de Guildford!

Como eu só tinha comido uma maçã e um quarto de chocolate Milka o dia inteiro, paramos numa espécie de padaria e eu e M. compramos um salgado de forno quadrado, uma espécie de torta, recheada de frango, que era muito gostosa, mas não tinha gosto de frango. Não deliberamos muito sobre o lanche.

Andamos por algumas ruas e encontramos o castelo, o sol já estava se pondo. À essa hora o castelo já estava fechado para visitantes, mas pudemos visitar os jardins e tirar algumas fotos.




Na volta pra casa, eu e R. nos separamos dos ciclistas e fomos até a estação para pegar o ônibus. Cheguei em casa por volta das 18h e tive pouco tempo de fazer qualquer coisa antes de sair às 19h para encontrar a Bethany. Fomos até o Heart + Soul, onde eu esperava jantar alguma coisa, mas a cozinha já estava fechada. Tomei chá verde com limão e comi um cupcake com marshmallow de coração em cima.

Conversamos sobre os acontecimentos de nossas vidas na última semana, Bethany me contou sobre um emprego que estava tentando conseguir. Pouco antes de dar nove horas, encerramos a noite e voltamos para casa, afinal eu ainda precisava fazer uma refeição e estudar mil coisas para a semana.

Cheguei no flat e vi que minha cozinha estava tomada de brasileiros fazendo comida japonesa, convidados pela minha flatmate. Preparei um risoto de micro-ondas (preciso comprar mais comida) e comi com eles, até um pouco dos cogumelos que eles fritaram no shoyu. Terminei de comer e voei de volta para o quarto para começar a exaustiva noite de estudos, que durou até às 4h.

#17 Vida no campus

Sexta-feira não é dia de aula para mim, mas o dia estava lindo, com uma temperatura agradabilíssima (9ºC com sensação térmica de 12ºC) e tinha uma espécie de feira acontecendo da união dos estudantes na universidade onde todas as sociedades e clubes distribuem brindes para os calouros na esperança de que se juntem a eles. E também estava todo mundo em clima de campanha, com os vários candidatos à cargos na Students Union pedindo votos.

 
Eu e J., minha amiga de Film Studies, passeamos, ganhamos vários brindes e nos inscrevemos para participar da Stag TV, o canal online dos estudantes que produz vídeos engraçados e divulga o que está acontecendo no campus. Também me inscrevi para o jornal, The Stag, e devo ser convidada para uma reunião em algum dia da próxima semana.

Também estava rolando uma liquidação de cartazes e comprei este aqui para enfeitar meu quarto:
Um dos meus filmes preferidos de todos os tempos
 
Depois de passar pela feira, resolvemos aproveitar o dia bonito para passear e tirar fotos pelo campus. Finalmente consegui descer até o lago cuja paisagem me seduzia desde que comecei a pesquisar sobre a University of Surrey, antes mesmo de ser convocada.




Prédio da faculdade de ciências médicas e onde tenho aula de Contemporary Storytelling
Resolvemos voltar para o Manor Park a pé, aproveitando a luz do dia e tirando ainda mais fotos.
Prédio do departamento de Film Studies




The Stag, mascote da universidade
À noite fui pela primeira vez na Rubix, a boate que funciona dentro do campus principal (!!), onde durante o dia tinha sido sede da feira de estudantes e que recebe uma feira de frutas e verduras todas as quintas-feiras pela manhã-tarde. E à noite é uma boate. Com festas todos os dias.

Fui por volta das onze com meu amigo G, que mora no prédio em frente a mim. Dessa vez me arrumei mais no estilo das meninas daqui, mas sem tanta piriguetagem. Blusa preta de manga 3/4 com renda nas costas, legging preta, saia prateada um pouco acima do joelho e sapatilhas pretas. Caprichei na maquiagem, coloquei o casacão de inverno por cima e fui aproveitar a noite, que não estava tão fria, mas também não tanto a ponto de ficar em ambientes abertos por muito tempo.

Chegamos na Rubix e não encontramos quase ninguém. A maioria das pessoas deveria estar em casa se arrumando ou fazendo um esquenta no pub ao lado, o Chancellors. Eu e G. fizemos nosso próprio esquenta, indo direto pra pista de dança. Eventualmente as pessoas foram chegando a ponto da pista de dança ficar lotada. Encontramos outros brasileiros mas não ficamos só com eles, demos uma circulada geral para conhecer novos rostos da universidade.

Uma das queixas dos brasileiros, tanto dos meninos quanto das meninas, é que é muito difícil flertar e conseguir alguma coisa com os estrangeiros. Eu já tinha percebido isso no meu intercâmbio passado no Canadá. Mas como esse não era o meu foco, nem me preocupei. Mas me surpreendi ao levar algumas olhadas e até cantadas pouco convencionais.

Estava atravessando a pista sozinha à procura dos amigos quando um rapaz aproximadamente da minha altura com um rosto muito semelhante ao do ex-primeiro ministro Tony Blair sorriu para mim e perguntou se eu me importaria em dançar com ele. Ele foi tão simpático e educado que não, não me importei de dançar com ele. Perguntou o que eu estudava e de onde era, e quando ouviu a resposta, começou a falar de um amigo brasileiro que tinha, que sabia dançar forró e a me fazer perguntas sobre o Rio. Ele era polonês e seu nome era Kamil, e dançava forró de forma bem razoável, melhor até do que eu (embora isso não signifique muita coisa, já que sou incapaz de ser guiada em qualquer tipo de dança à dois). Conversamos e dançamos por boa parte da noite e ao final, em vez de tentar me beijar como um brasileiro normalmente faria, pediu meu telefone ou meu e-mail para, se eu quisesse, marcarmos de tomar um café qualquer dia dessas.

Achei tão fofo que não pude dizer não.

Mas quando recebi o e-mail dele poucas horas depois chamando para a festa na noite seguinte, disse que já tinha outros planos (verdade) e que poderíamos marcar outro dia (mas não disse quando).

Acho que decepcionei o menino porque dois dias se passaram e ele não respondeu meu e-mail.
Mas tudo bem. Pelo menos descobri como são os rituais de balada daqui.

#16 Valentines da Depressão (14-02-2013)

No Brasil foi uma quinta-feira normal de retorno ao trabalho após o carnaval. Aqui foi Valentine's Day, o que não significaria muito para nós se não houvessem corações espalhados por todas as vitrines e cartazes do campus e da Tesco. Mas fora isso, nada extraordinário. Mesmo. Não vi nenhuma declaração de amor pública, o que teria animado um pouco o dia, mas por outro lado, seria um tanto deprimente pra quem está sozinho.

De manhã cedo fui para a aula de Experimental and Avantgarde Cinema, e finalmente entendi o contexto dos filmes que estamos estudando: movimentos artísticos do século XX, é claro!

A primeira aula foi sobre Construtivismo, embora eu não tenha percebido, e esta segunda aula pincelou um pouco do Futurismo italiano e do Dadaísmo (1916-1921). Foi interessante perceber estes movimentos pelo olhar do cinema, já que na escola a gente só estuda a parte da literatura e um tiquinho assim das artes plásticas. Assistimos vários filmes curtos em preto e branco com a mesma temática de questionar para onde a burguesia estava levando o mundo.

Eu tinha combinado de almoçar com o pessoal brasileiro no pub Chancellors mas estava morrendo de sono (tenho ido dormir tarde todas as noites, há sempre tanto a fazer!), resolvi voltar para casa e tirar um cochilo até a próxima aula. Acordei antes das duas, improvisei um almoço e voltei para a universidade para a aula de Assingment Writing, ou, aula de como-interpretar-e-fazer-trabalhos-que-valem-nota-cumprindo-os-requisitos-britânicos. A aula não foi tão útil quanto eu esperava para o tipo de trabalho que eu precisava fazer para a aula de Hollywood and Film Genres.

(Era realmente uma aula de interpretar enunciados de tarefas, como, o que se deve fazer quando o título da redação diz "discuta", "compare" ou "analise". Praticamente uma aula de vocabulário, nada de realmente novo ou surpreendente para mim.)


Mas, deu pra aproveitar alguma coisinha e ter uma ideia de como fazer minhas essays pro fim do semestre.

A aula seguinte era a parte prática de Contemporary Storytelling, onde fizemos um exercício de escrever contos ainda no estilo de Raymond Carver mas a partir de frases do site www.textsfromlastnight.com. Muito engraçado e inspirador, vale a pena dar uma olhada, boas risadas garantidas.

Depois da aula fui ao Tesco comprar umas coisinhas e uma bebida e mini muffins de chocolate para a grande atração da noite: Valentine's da Depressão, a festa dos corações solitários do Ciência sem Fronteiras, que contou com uma seleção musical impecável com o que há de "melhor" na música brasileira:

- É o Tchan
- Molejo
- Naldo
- Mc Marcinho
- Luan Santana

Pelo menos a diversão estava garantida na common room da James Black Road, e tivemos até participações internacionais das espanholas Tamara e Teresa e da francesa Samantha.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

#15 Um dia (quase) perdido (13-02-2013)

Na quarta-feira eu planejava acordar razoavelmente cedo (10h), ir até a cidade, comprar mais um conjunto de toalha e lençol (pra quando os outros estivessem sujos), fazer todos os meus deveres da semana (que já eram muitos) e quem sabe ainda passear um pouco, tirar algumas fotos do campus e da cidade.

Mas eu acordei ao meio-dia, enrolei para fazer o almoço, nevou um pouco, não saí de casa, fiz um pouco dos meus deveres (não tudo), e foi só. Nem fotos eu tirei.

Pelo menos deu pra descansar.

E pra ler isso aqui:

 
Aliás, recomendo. Cada conto é uma paulada na moleira, mas vale a pena. É o tal do Dirty Realism que comecei a ver na aula de Contemporary Storytelling.
 

#14 Cantando na chuva e o Piano Bar


Terça é dia de filmes de Hollywood e pela primeira vez na minha vida assisti o tão famoso Singin' in the Rain, clássico dos clássicos, especialmente quando se trata de musicais, o tema desta e da próxima semana nesta aula. Amei o filme, recomendo a todos que não viram, mesmo que não gostem de musicais. O mais interessante é notar como diversos filmes de Hollywood das últimas décadas fazem várias referências aos filmes clássicos, até mesmo reproduzindo várias cenas. Por exemplo, os filmes O Artista (2011) e A Feiticeira (2005) copiam algumas cenas de Cantando na Chuva. E essas foram as que eu consegui reconhecer, aposto que muitos outros filmes já fizeram referência a este e a tantos outros clássicos.

Ai, ai. Como não se apaixonar por Gene Kelly?

Debbie Reynolds e Gene Kelly durante a canção "You were meant for me"
Ou, como não se apaixonar por um homem que dança?
 
Cyd Charisse e Gene Kelly durante a canção "Broadway Melody"



 
 
À noite todos os habitantes do Manor Park se reuniram no restaurante Heart + Soul para comer panquecas - de graça! Porque no Brasil até podia ser carnaval, mas não era dia da panqueca. Nem tinha gente distribuindo panqueca por aí. Às sete e meia a fila estava imensa e eu consegui pegar a última panqueca da noite (já fria, borrachenta, e quase sem nenhum recheio para colocar nela). Acho que todos esperavam mais do dia da panqueca. What a shame.
 
Fui paro centro da cidade com os brasileiros porque era aniversário de uma das meninas e íamos comemorar no Tickled Ivory Piano Bar, onde a entrada era gratuita antes das 22h e haveria show de uma banda de blues/jazz. Fomos todos no mesmo ônibus mas quando chegamos na cidade, o grupo de vinte pessoas foi se separando; uns queriam comer antes (e dentre esses, alguns no Burger King, outros no Subway) e apenas três (eu e dois meninos) fomos direto para o Piano Bar.
 
O bar estava vazio e não era bem um pub para sentar, conversar e beber alguma coisa. Era praticamente uma boate. E todas as meninas estavam super bem vestidas, de saia e vestidos curtos, de renda, paetê, e usando salto alto. E poucas carregavam casacos. E estava bem frio lá fora. De repente me senti mal usando minha saia longa de florzinhas e minha blusa cinza de gola rolê. Gola rolê. Numa boate. No mínimo parecia que eu estava voltando da missa. Tsc, tsc. Mas, sem dramas.
 
Eu e os meninos, C. e D., ficamos conversando até que chegou a Ju, para completar nosso quarteto. E os outros brasileiros nunca apareceram, porque quando eles terminaram de comer, já passava das 22h e a fila para entrar no lugar já estava grande, eles ficaram com preguiça e acabaram nos abandonando e indo para outro bar, um pub de verdade desta vez.
 
Mas conseguimos nos divertir muito só os quatro, principalmente quando a banda composta por um pianista, um baterista e ninguém mais começou a tocar. Deu até pra dançar loucamente como os nativos e ainda fazer alguns passos de forró.
 
Ficamos até umas onze e meia da noite, o tempo certo para pegar o último ônibus para o Manor Park e encontrar todos os brasileiros no terminal. Chegamos em casa por volta da meia noite, e se você acha isso tarde para um dia de semana, bem, tudo o que tenho a dizer é que não tenho aula às quartas-feiras.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

#13 Mais biblioteca (11-02-2013)

Passada a primeira semana, finalmente consegui organizar meu horário para este semestre:


Como na segunda-feira passada eu tive o problema do laptop e tive que fazer a carteirinha de estudante, não pude ir na aula teórica de Contemporary Storytelling, fui só na aula prática, na quinta-feira.

Acordei bem disposta e, já ciente dos horários do ônibus saí de casa, com uma certa antecedência, mas porque eu ainda não conhecia o local dessa primeira aula. Cheguei na universidade e fui até o Lecture Theatre, sala M, alguns minutos adiantada e esperei, ouvindo música. Encontrei a Clarissa, menina gaúcha que também estuda cinema aqui e está praticamente em todas as minhas aulas. Quando deu 11 horas, entramos e pegamos lugares na sala.

A professora entrou, colocou a apresentação de PowerPoint e já começou a falar do conto de Raymond Carver, What we talk about when we talk about love. Eu olhei para a Clarissa sem entender e ela também não estava nada esclarecida. A professora continuou falando sobre o conto, destacando frases repetitivas que caracterizavam a escrita de Carver. Ao fim da aula, me dirigi à professora e perguntei quando ela tinha informado sobre a leitura para esta aula. Ela me explicou que o cronograma das aulas estava na ementa da disciplina que eu havia pego na aula anterior e que ela costumava avisar no SurreyLearn, a plataforma de comunicação entre professores e alunos que também disponibiliza grande parte dos materiais para as aulas, mas que os livros nós deveríamos pegar na biblioteca.

Eu teria que descobrir sozinha o que ler para qual aula. Muito diferente da minha situação no Brasil, onde todos os professores estão sempre nos lembrando o que fazer e como fazer. Aqui ninguém pega a gente no colo.

Fui para a biblioteca, agora já sabendo direitinho como e onde procurar. Olhei na lista o livro da semana seguinte, The Bloody Chamber, de Angela Carter. Também procurei o livro desta semana, para me situar no exercício que faríamos na quinta-feira. Anotei os números direitinho e conferi duas vezes para ter certeza de que não tinha nenhum erro, peguei o elevador e fui para o 5º andar.

Suspiro. O paraíso é a seção de literatura - que ocupa metade do andar. Acho que quero ficar ali pra sempre, no meio de Hemingway, Fitzgerald, Austen, e tantos outros que nem tive tempo de reparar. Encontrei os livros que precisava, já me sentindo uma verdadeira entendedora do sistema de catalogação, aluguei os livros na máquina e pronto.

À tarde tive aula de Film Industry e descobrimos, com base em pesquisas sobre os principais estúdios de Hollywood, que os filmes que dão dinheiro são animações para crianças ou filmes de super-heróis; e que comédias quase não rendem, mas também possuem um orçamento muito baixo, então não tem problema se elas fracassarem - e isso explica porque existem tantas comédias ruins por aí.

Ah, nevou!

(Parece imagem granulada de TV analógica, mas é neve caindo)
 

#11 e #12 Fim de semana na biblioteca

Sábado acordei meio-dia, devido aos festejos da sexta-feira. Tomei um leite com chocolate, comi uma maçã e saí para explorar a biblioteca da universidade que funciona aos fins de semana e durante a semana fica aberta por 24h. Meu sonho de morar numa biblioteca começa a virar possível.

A universidade estava completamente deserta e tive dificuldade em encontrar o caminho até a biblioteca sem passar no meio dos prédios, como sempre faço, porque sendo fim de semana estavam todos trancados. Mas eventualmente achei meu caminho quando resolvi seguir um menino asiático que tinha saltado do ônibus junto comigo.

Chegando lá, subi o primeiro lance de escadas e passei pela catraca da biblioteca com meu carteira de estudante. Bem, por onde começar? Eu já tinha buscado no catálogo online pelo livro que precisava (The Contmporary Hollywood Film Industry, by Paul McDonald and Janet Wasko) e sabia que haviam dois disponíveis para empréstimo de uma semana e um para empréstimo de um dia. Mas eu ainda não tinha encontrado as estantes, só várias salas com mesas, máquinas de xerox, computadores e estudantes quietos. Resolvi pedir ajuda.

A funcionária da biblioteca foi muito simpática e me mostrou como era o sistema de organização. Pediu o nome do livro que eu procurava e encontrou o número de catalogação dele e pediu que eu anotasse. Anotei a seguinte sequência: 334.809794940/CON

Para me adiantar a busca, a funcionária me disse que eu encontraria meu livro no quarto andar, era só pegar o elevador "atrás daquela parede". Agradeci e me dirigi até a parede que ela me indicou. Mas não vi elevador, só uma saída de incêndio que dava num lance de escadas. Dei meia volta, contornei a área das copiadoras e me encontrei novamente no saguão principal. A mulher simpática já não estava mais lá. Em frente à escada central que subi, tinha um elevador, devia ser aquele. E aí comecei a me sentir num quadro de Escher.

Entrei, mas não tinha quarto andar, parava no terceiro. Bem, talvez houvesse uma outra escada por lá. Subi, mas vi que não tinha para onde ir no terceiro andar, só ficar na escada. As portas de vidro estavam todas fechadas. Voltei para o elevador, mas ele não queria descer. Desci as escadas e me encontrei novamente no segundo andar, em frente ao saguão principal da biblioteca, com as catracas. Resolvi entrar novamente e seguir até uma sala ao fundo, onde tinham computadores.

Encontrei a estante de empréstimos de um dia, e bem mais ao fundo, um elevador! Pronto, era esse, mas não estava atrás da parede que a mulher tinha me indicado. Bem, entrei e descobri que a biblioteca tem 5 andares, embora só três sejam visíveis pela entrada principal. Apertei o 4 e subi.

Quando saí, aí assim reconheci uma biblioteca: estantes de livros por toda parte. Olhei os números que tinha anotado. Os primeiros dígitos, 33, estavam indicados na estante de Economia. Estranhei, mas já que era um livro sobre indústria cinematográfica, às vezes tinha alguma coisa a ver. Bom, certamente esse livro continha muitos números.

Vasculhei as estantes, livro a livro, olhando os números, os títulos, até ficar tonta. Encontrei um livro que tinha a primeira parte da sequência (3348) igual, mas ao lado dele não havia mais nenhum que seguisse essa ordem. E todos eram claramente livros de economia - economia de vários países, em vários períodos, em várias línguas. Mas nada de cinema, nada de Hollywood.

Minha cabeça girava e tudo o que eu queria era deitar no chão acarpetado entre as estantes e descansar. Estava tudo tão vazio e silencioso, acho que se eu tivesse morrido de exaustão ali, iam  demorar a me encontrar. Mas de repente me lembrei de minha amiga Jordana que já tinha alugado o livro. Peguei meu celular (viva wi-fi!) e mandei uma mensagem perguntando onde ela tinha encontrado o livro. Ela não se lembrava, mas disse que tinha sido no 4º andar, numa prateleira "quase no chão", junto de outros livros sobre Hollywood. Passei a vasculhar todas as prateleiras próximas do chão da seção de economia, mas tudo o que consegui foi dor nas costas. Eu já tinha decorado a sequência numérica de tanto que a procurava. Aqueles números estavam me dando dor de cabeça. Eu queria desistir.

Desisti. De procurar sozinha. Voltei para o primeiro andar (ou o segundo, já nem sei mais) e perguntei a uma outra funcionária onde poderia encontrar meu livro. Disse que já tinha procurado por toda parte e não tinha encontrado. Ela perguntou o nome do meu livro, eu disse, ela anotou o número em um papel e pediu para uma outra funcionária que passava para me levar até lá. Era a mesma senhora que tinha me atendido antes. Ela olhou para mim em choque e disse "Você ainda não encontrou seu livro?! Mas você está aqui há horas!" Expliquei minha inabilidade e ela, muito piedosamente, me conduziu ao esclarecimento.

Primeiro passamos nas primeiras estantes ainda neste andar, dos empréstimos de um dia. Quando ela recitou os números, procurando pela posição do livro que eu queria, percebi o que tinha acontecido. Vislumbrei o número no papel que ela levava: 384.80979494/CON.

384. E não 334.

Eu estava procurando no lugar errado o tempo todo. Com o número errado o tempo todo. Não sei se anotei errado ou se a caneta falhou na hora e por isso meu 8 ficou parecendo um 3. Só sei que com aquele número eu não ia achar o livro mesmo. Nunca.

Encontramos o livro da coleção de empréstimos de um dia, mas a senhora solícita quis me mostrar os de 7 dias. Me conduziu por uma porta de incêndio, onde tinha um outro elevador (o tal atrás da parede que eu não fui capaz de encontrar) e chegamos no 4º andar pelo outro lado. Lá, ela foi direto na seção de Turismo e Antropologia, e com uma assertividade de bibliotecária, tateou na prateleira mas próxima do chão pelo meu livro. Me abaixei para ajuda-la e vi que ali realmente tinha uma coleção de livros só sobre Hollywood. Não na seção de Economia.

Mas o livro que eu precisava ainda não estava ali. Então ela me levou até uma outra estante, enorme, destacada de todas as outras, onde ficam os livros que as pessoas retiram do lugar ou então que não cabem aonde deveriam estar. E lá estavam duas cópias do livro de McDonald e Wasko. Não sei quantas vezes agradeci àquela mulher tão solícita, tão simpática, tão adorável. Ela me deu um sorriso, me estendeu o livro e disse que eu voltasse ao andar principal e pedisse ajuda de alguém para alugar o livro.

Desci, encontrei um terceiro funcionário que mal me dirigiu a palavra, só me mostrou a máquina de empréstimos e o que fazer com ela. A máquina parece um caixa eletrônico, com uma tela sensível igual aos caixas de dinheiro. Coloquei o código de barras da minha carteira de estudante sob o laser vermelho, pus o livro sobre uma superfície com sensor, apertei um botão na tela e saiu um ticket indicando o meu nome, meu número de estudante, o nome do livro, a data de empréstimo e a data de devolução. Muito moderno.

Voltei pra casa, já eram 16h-17h. Preparei legumes ao vapor (congelados, só colocar no micro-ondas por 3 minutos) e nuggets de peixe (dessa vez descongelei no micro-ondas e depois joguei na frigideira) para meu almoço/janta. Ficou bem gostoso.

Passei o resto da noite estudando e lendo os primeiros capítulos do livro para a aula de segunda-feira.
 
 
Domingo:
 
Dia de faxina. Lavei banheiro, passei aspirador no quarto, arrumei a cama e guardei as roupas espalhadas pelo quarto. Estudei e li mas. Comi macarrão com legumes. E foi só isso. :)


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

#10 Uma noite de roupa suja e música

Na quinta-feira à noite os brasileiros começaram a planejar uma viagem à Londres para curtir o carnaval na boate brasileira Guanabara na noite de sexta-feira. Quem chegasse antes das 20h entrava de graça na boate. A ideia era pegar o trem de Guildford a Londres por volta das 17h, ir para a festa, dormir em algum albergue por lá, passar o sábado inteiro passeando pela cidade e voltar no último trem da noite. Era um bom plano.

Sexta-feira acordo ao meio-dia porque não tenho aula, mas já começo a me desesperar com o pouco tempo que tenho até a viagem. E tinha combinado com Bethany de lavar roupa quando ela voltasse da aula, por volta das 15h30.

Resolvi finalmente tentar cozinhar alguma coisa que não ficasse pronta em 3 minutos e coloquei uma água pra ferver pro meu macarrão. Os legumes estavam me chamando na geladeira mas eu ainda não me sentia pronta para prepara-los. A hora deles ia chegar um dia.

O macarrão estava saindo direitinho, mas quando chegou a parte de jogar a massa escorrida de volta na panela pra refogar ao alho e óleo... Onde estava o alho? Eu tinha azeite na panela, mas tinha esquecido de comprar alho. Lembrei que minha companheira de flat brasileira tinha feito macarrão no dia anterior e ela tinha alho. Abri seu armário, tirei um dente e deixei um bilhetinho avisando do empréstimo. Piquei um pouco do dente de alho, joguei no azeite, começou a fritar, joguei o macarrão, o sal e o orégano. Pra completar, fiz um ovo mexido. O macarrão ficou meio sem sal, mas pelo menos a refeição foi preparada com calma e sem surpresas.

Almocei, comecei a arrumar a mochila com uma muda de roupa pra mini viagem, a pensar em que roupa ia sair para um carnaval brasileiro em Londres num frio de 0 graus. Tudo isso antes das três da tarde. Tomei logo meu banho para poder colocar as toalhas no cesto de roupa suja, porque ainda estava esperando Bethany aparecer para me ensinar a mexer na máquina de lavar.

Tomei banho e voltei para o dilema da roupa. Quatro da tarde e nada de Bethany. No grupo do Facebook, alguns brasileiros começavam a desistir. Ainda tínhamos que reservar os quartos no albergue, mas ninguém mais se manifestava. De repente, das dez pessoas que confirmaram ir para Londres na noite anterior, só cinco mantinham a viagem de pé. E já era quase 17h.

Desisti da viagem também. Tudo foi decidido muito em cima da hora, eu não tinha nada pronto, não tinha reserva no albergue, não conhecia o trem para Londres ainda. E o argumento dos que desistiram começou a fazer sentido: era de fato bastante dinheiro pra gastar logo no segundo fim de semana, ainda mais considerando tudo o que eu já tinha gasto comprando travesseiro, edredom, panela, etc. Desisti e não me arrependi. Carnaval é bom mas tem todo ano, e esse não seria o primeiro nem o último que eu perderia. Certamente alguma coisa melhor eu arranjaria pra fazer na sexta à noite.

Por volta das 17h, Bethany bate à porta do meu flat pedindo desculpas pelo atraso, teve que resolver alguns problemas com a companhia do celular. Peguei meu cesto de roupas, o sabão em pó e o amaciante e rumamos para uma das lavanderias do campus, a maior, que tem sofá, televisão e mesa de ping-pong.

Antes de mais nada tive que colocar duas libras numa máquina para emitir um cartão com chip, o qual eu usaria para pagar minhas lavagens. Enchemos as máquinas com nossas roupas e Bethany pagou a minha primeira lavagem (2 libras). Voltamos para o meu quarto, entrei no site da empresa que opera as máquinas de lavar, me registrei, carreguei meu cartão com 10 libras (que viraram 12, não entendi por quê), voltamos à lavanderia, coloquei o cartão em uma outra máquina, digitei o código que recebi online e meus créditos foram habilitados.

Nisso já tinha passado a meia hora necessária para lavar as roupas. Colocamos na secadora, e voltamos para nossos respectivos quartos para voltar 50 minutos depois. Nesse meio tempo descobri o que as pessoas que tinham desistido de ir a Londres iam fazer naquela noite. Alguns iam para um pub, outros para uma balada, outros para um jantar multicultural dos intercambistas num dos alojamentos do Stag Hill Campus. Fiquei com a terceira opção.

Voltei na lavanderia, busquei minhas roupas, me arrumei e desci para a recepção do Manor Park para encontrar um menino que ainda não tinha ido para o jantar. Passamos na Tesco por volta das 21h, compramos uma garrafa de vinho para contribuir com o jantar e caminhamos até o alojamento, que era mais próximo do mercado que os outros prédios de aula do Stag Hill. Foi fácil encontrar o lugar da festa, pois tinha gente do lado de fora conversando e fumando. Subimos junto com outro brasileiro que nos recebeu na porta e entramos na cozinha do alojamento, onde uma multidão estava reunida. Todos estudantes de intercâmbio do ano de 2013 de diferentes países: Estados Unidos, Canadá, Itália, França, Finlândia, Brasil, Alemanha e claro, alguns do Reino Unido também.

Conversei por horas com a francesa Laurianne, que estuda língua e civilização inglesa aqui, então falamos muito sobre literatura.

Lá pela uma da manhã algumas pessoas foram embora, mas a festa foi transferida da cozinha para o Quiet Centre, um espaço destinado para meditações, manifestações religiosas coletivas e que envolvam instrumentos musicais e, quando todos estão dormindo, estudantes que querem fazer música sem incomodar ninguém. Este espaço fica no alto de uma pequena colina dentro do campus, e no caminho até ele passamos por vários jardinzinhos que devem ficar lindos na primavera.

Fizemos uma roda em torno dos músicos (dois gregos, um francês, dois ingleses, um italiano e um brasileiro), sentados ou deitados no chão acarpetado da sala circular, assistindo e ouvindo improvisos de blues e entoando algumas canções da bossa nova (só os brasileiros, mas os outros gostaram).

A noite terminou às três e meia da manhã com promessas de mais encontros harmoniosos. Fui dormir cansada mas tranquila, porque o dia seguinte era sábado e eu poderia enfim descansar da longa semana cheia de novidades.





domingo, 10 de fevereiro de 2013

#9 Bridget Jones e o iceberg

Pulei da cama na quinta-feira às oito da manhã, tomei um leite quente com chocolate, comi uma torrada e corri para o ponto de ônibus. A primeira começava 9h e eu perdi o ônibus de 08h47. A sorte é que descobri um ponto de ônibus ao lado do Nodus Building, o prédio de cinema e artes, então consegui não me atrasar tanto para a primeira aula de Experimental and Avantgarde Cinema.

A professora passou alguns vídeos de dois cineastas experimentais alemães e nos mostrou um site onde temos acesso às novidades do cinema experimental.

A aula terminou às 11h e a minha próxima era só às 16h. Voltei pra casa, resolvi fazer um almoço rápido (miojo - ainda não estava confiante para testar minhas habilidades culinárias) com os nuggets de peixe que tinha comprado. Comida que eu estava acostumada a fazer, o que podia ser mais fácil que isso?


Toda confiante na cozinha.
Enquanto fervia a água do miojo, bebia um café do Starbucks que tinha comprado na universidade, me sentindo confiante e à vontade na cozinha. Até deixar o café pingar na minha blusa de lã branca.

Miojo pronto, vamos fazer os tais fish fingers. Hum, eu não tinha bandeja de forno. Mas lembro que quando estava no Canadá, minha amiga Clarissa fazia os bichinhos na frigideira, só com um pouquinho de manteiga. Voilà, ia fazer o mesmo. Vira aqui, vira ali, até ficarem douradinhos. Mordi um pra ver como estava - congelado, ainda. Só então lembrei que primeiro, Clarissa descongelava os nuggets no micro-ondas para depois leva-los à frigideira. Ok, vamos fazer na ordem inversa.

O prato que eu usara pra colocar os nuggets não cabia no micro-ondas. Tive que usar minha tigela, mais uma louça pra lavar depois. Dois minutos e os nuggets de peixe estavam finalmente quentes - e moles e despedaçados. E toda a minha louça estava suja (panela, frigideira, prato, tigela, garfo, faca). Pelo menos o almoço era só pra mim e ninguém testemunhou meu pequeno fracasso culinário, mas senti falta das habilidades de um Mark Darcy.
Help!
Comi e voltei para o quarto. Me inscrevi online para uma aula de inglês de uma hora semanal às quintas-feiras, para aprimorar a escrita, já que todas as disciplinas que vi até agora tinham trabalhos escritos como avaliação (e nenhuma prova). A aula era às 15h, então às 14h eu já estava me aprontando para voltar à universidade.

Na aula de inglês, muitos intercambistas e minha já conhecida amiga brasileira de Natal. A aula foi mais uma introdução sobre os tipos de tarefas escritas que poderemos ter que realizar durante o semestre.

Acabou a aula e eu e minha amiga corremos para a aula de Contemporary Storytelling em outro canto da universidade. Essa seria a segunda aula da disciplina naquela semana, mas não consegui ir na primeira porque era no mesmo horário da aula sobre poesia. E depois de entender do que se tratava, decidi definitivamente abandonar a aula de poesia por essa de agora.

A disciplina consiste no seguinte: na aula de segunda-feira, estudamos um escritor contemporâneo e seus estilos. Na aula de quinta, colocamos em prática escrevendo contos de improviso.

Basicamente o tipo de aula que eu sempre quis fazer e onde terei a oportunidade de explorar minha escrita em diferentes estilos e ainda sob pressão (habilidade que consegui desenvolver graças ao Jornalismo). A primeira semana foi sobre Raymond Carver, contista norte-americano que compartilhava da teoria do iceberg de Hemingway: em um conto, você tem que se preocupar em criar todo um universo de cenários, personagens e eventos, mas só pode expor uma pequena parte, a ponta do iceberg. Todo o resto tem que ficar submerso, e aquilo que não é mostrado na história é tão importante quanto o que é.


#8 Lição de sobrevivência: não faça compras sozinho

Quarta-feira, 06/02/2013.
Nenhuma aula hoje, mas fui à universidade para me registrar na polícia. É assim: porque vou morar no Reino Unido por um ano, eu me registro e ganho uma espécie de carteira de identidade daqui. Um documento oficial para substituir o passaporte, que pode então ficar bem guardadinho em casa dentro de uma gaveta - afinal, ninguém quer perder esse documento por aí e enfrentar as consequências. Em sete dias deve chegar pelo correio minha nova identidade temporária.

Onze e meia da manhã e eu não tinha mais nada programado para o resto do dia. Peguei o ônibus (já tinha pego meu bus pass no dia anterior, que me permite pegar quantos ônibus quiser em Guildford pelos próximos 365 dias), desci no meio do caminho para casa e fui em direção à Tesco, o supermercado amigo dos estudantes de Surrey, também conhecido por vender carne de cavalo em vez de carne bovina.

Rodei todos os corredores explorando tudo o que tinha para encher a minha geladeira e meus armários da cozinha. Comprei maçãs, pão, queijo, macarrão, temperos, legumes congelados (!!), salsicha de frango, carne de hambúrguer (de boi, espero), leite, suco, lenços de papel. Uma panela grande (até agora vinha usando uma que a Bethany me emprestara, mas já estava na hora de devolver), um ralador (para dividir com os colegas brasileiros, um dos quais já tinha comprado escorredor de macarrão).

Me dirijo ao caixa, feliz com as compras que devem durar algumas semanas, e quando começo a guardar os itens nas sacolas plásticas, percebo o volume generoso que terei que carregar de volta pra casa. Seis sacolas. Três em cada braço, vai ser fácil. Mas eram seis sacolas pesadas. Bem pesadas.

Respirei fundo, peguei minhas sacolas e saí do mercado, atravessando o estacionamento para chegar do outro lado da calçada. Que sacrifício! De repente faz sentido porque mamãe sempre pede para o mercado entregar as compras em casa. Chegando na calçada, larguei as sacolas no chão, respirei, esperei. Algumas pessoas passavam ao meu lado, olhavam minhas sacolas e simplesmente seguiam. Nenhuma oferta de ajuda. Tudo bem, eu sou forte e jovem, eu consigo. Peguei as sacolas novamente (lembrando: vestindo um casaco pesado que me deixava com poucos movimentos e tendo que lidar com o vento gélido na cara. E sem luvas.).

Consegui contornar o enorme gramado que tem entre o estacionamento do Tesco e a avenida que leva até o Royal Surrey Hospital e também ao Manor Park e parei na calçada, tentando descobrir o melhor jeito de atravessar. A faixa de pedestres estava longe, o que significava mais tempo de sofrimento para chegar nela. Vi algumas pessoas tentando atravessar onde eu estava (a avenida é de mão dupla, com uma "ilha" no meio separando a faixa dupla) e as segui, na cara e na coragem. Ajuda muito o fato dos motoristas serem educados e pararem quando veem pedestres tentando atravessar a rua. Sobrevivi. Me arrastei mais alguns metros até o ponto de ônibus, larguei minhas sacolas no chão, sentei e esperei. No frio. Já era uma e pouca da tarde e eu começava a sentir fome.

Dez ou quinze minutos depois apareceu meu ônibus verde para me salvar. Com dificuldade entrei, aloquei as sacolas em algum canto e sentei, por alguns minutos até chegar de volta no Manor Park. Quando chegamos, minha salvação: dois brasileiros conhecidos se ofereceram para levar minhas sacolas até o meu prédio. Subiram as escadas comigo e tudo. Fiquei muito grata e eles se despediram.

Guardei as compras e depois de toda essa canseira, não tive coragem de cozinhar algo muito complicado. Fiz um risoto de cogumelos de micro-ondas e comi com ovo mexido. Lavei a louça, voltei pro quarto e dormi o resto da tarde, profundamente.

Nota mental: comprar um carrinho de feira ou levar amigos para fazer as compras da próxima vez.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

#7 Meu primeiro western e o fim da odisseia

Terça-feira, nove horas da manhã e já pulei da cama e corri para pegar o ônibus. Primeira aula do dia: Hollywood and Genres (se pronuncia jânrra, como em francês). Felizmente não fui a única atrasada, e dessa vez não foi difícil encontrar o Lewis Carrol Building (ou AC, na lógica maluca do mapa), pois eu estava acompanhada de brasileiros veteranos que me guiaram direitinho até o andar que eu tinha que estar. Difícil mesmo foi achar a entrada do prédio de novo, sozinha, ainda mais tendo saído por uma porta diferente enquanto me distraía conversando com a professora.

O objetivo do curso é a discussão do gênero cinematográfico, especialmente o de Hollywood. Que aspectos definem o gênero de um filme, para que serve essa classificação, etc. A aula tem duas partes: de manhã assistimos um filme e à tarde discutimos o que vimos relacionando com os textos dados previamente pela professora.

Quando a turma estava completa, umas quinze pessoas, a professora ligou o projetor e fomos transportados para o ambiente do faroeste americano com o filme "The Searchers" (Rastros de Ódio, na tradução brasileira), filme de 1956, dirigido por John Ford e estrelado por John Wayne. Western, nosso primeiro gênero a ser discutido e o primeiro filme do gênero que assistia. Nunca gostei muito de história de cowboy, principalmente quando envolvem genocídio de índios (o que é possível que ocorra em todos os westerns americanos). Mas gostei de ter conhecido esse estilo e mais ainda de ter discutido com os outros colegas de sala, a construção dos personagens, o contexto temporal da história e outros aspectos.

Só pra situar um pouco: o filme conta a história de uma família assassinada por uma tribo indígena que ainda sequestra as duas filhas da família. Por cinco (ou mais, perdi a conta) anos, o personagem de John Wayne (um tremendo babaca) procura as meninas sequestradas no deserto do Texas e imediações. O traço mais forte do filme e do gênero (que reflete uma característica da época - 1868, é a data em que começa o filme) é o horror da comunidade branca quanto à miscigenação. Era preferível que uma pessoa branca morresse do que "misturasse o sangue" com os indígenas. A miscigenação era um tabu - e não continua sendo pra muitas pessoas, não só em relação aos índios?


Mais uma aula com dever de casa. Ninguém aqui perde tempo!

Antes da segunda parte da aula, à tarde, tinha levado meu computador para o suporte técnico novamente (dessa vez com o carregador!) e no final da aula, passei lá para buscá-lo. Sucesso: conseguiram instalar o Office 365! E ainda busquei meu roteador wi-fi, comprado no dia anterior.

Antes de ir embora, passei no Senate House e busquei meu passe de ônibus (120 libras por um ano inteiro, menos do que eu gastaria em três meses pagando passagem todo dia). Agora vai ser difícil eu fazer qualquer coisa a pé pela cidade, mas prometo que é só até esse frio todo passar. Quando Março chegar, a primavera vai se anunciar, e o ar ficará bem mais agradável. É só esperar.